O homem que “ressuscitou” Luís Eduardo Magalhães

O que mais quer um estudante de jornalismo, sem pretensão ou vocação para ser mestre ou doutor, do que emplacar uma reportagem exclusiva em algum veículo impresso, mesmo que isso não renda sequer um centavo? No final da década de 90, na Faculdade de Comunicação da UFBa, mais do que o jornal laboratório era A Província da Bahia que conseguia atrair os mais relevantes textos e entrevistas que saíam dos bloquinhos e laudas datilografadas por mentes calouras e virgens de redações. Debochado, cáustico, imprevisível e polêmico, o hebdomadário costumava apresentar uma pauta que ia da sátira de costumes à crítica social, assim, meio intelectual, meio de esquerda. Às vezes dava para ser bombástico, e o melhor, a um custo quase zero, porque a remuneração de todos costumava ser um fechamento com meia dúzia de cervejas, pagas por cada um.

Nesta pretensão vã de querer salvar o mundo – e a Província – com algumas linhas na imprensa, estreei como repórter especial e editor assistente, sem nem mesmo chegar a ser foca (só um jornal onde três colaboradores se revezavam entre fotografia, comercial, diagramação e motorista permitiria tal acinte). Foi assim que eu mesmo sugeri a pauta, aprovei, investiguei, e ainda paguei a minha própria diária para descobrir quem foi o senhor que “ressuscitou” Luís Eduardo Magalhães. No dia do enterro do deputado federal baiano, diante das câmeras, ele conseguiu até rivalizar em notoriedade com o morto e o pai do morto. Durante a despedida, ele fez uma exortação e disse que poderiam abrir a tampa do caixão porque dali sairia um homem renovado. Ninguém teve coragem e pairou aquele ar de desmoralização para o anônimo calvo e com aparência de jardineiro antigo.

Foi difícil encontrar o irmão Vitório, mesmo para um graduando desocupado como eu. Até porque ninguém sabia que ele se chamava Vitório. O certo é que só uns 90 dias depois do sepultamento em abril de 1998, ele foi localizado no Engenho Velho de Brotas. E sua situação bem que merece uma intervenção divina. Depois do episódio, estava ameaçado de ser expulso da congregação dos Adventistas do Sétimo Dia, no Campo da Pólvora, e estava prestes a sofrer o trigésimo assalto. Mesmo assim, era dono de uma fé inabalável. Após três encontros, aceitou ser fotografado e contar tudo o que aconteceu naquele dia, como testemunho de que aos tementes a Deus nada é impossível. Seu Vitório garantiu: faltou fé às pessoas, porque se o caixão fosse aberto um milagre seria exibido em rede nacional. As palavras de um homem bom, ressuscitadas 14 anos depois.