Ali, congelado por suas tristezas glaciais
Amordaçado por nós de garganta
A um passo de sempre ir
A uma indecisão de sempre ficar
Sorvia as belezas incultas da profanação da idade
Bebia as riquezas ocultas da complexidade
Estranhava ali tudo que era coleta e desuso
Estranhava o que era abuso
Fazia pouco caso do uso da vírgula, do trema
“Vida não é gramática pra ter esquema”
Qualquer dor é tema pra encerrar uma cena
E assim apertava as algemas
Alfazema borrifava, a ferida perfumava
Tudo que perdia e faltava
Aquela angústia que ardia
Aquela mulher que queria
Aquela dor que ansiava
E assim descartava
O que não desejava era o que mais procurava
Era falácia, era mentira, era suspeita
Esta lenta riqueza da graça
Tudo que via, tudo que passa
Ali adorava como seita
Comia, bebia, escarrava
Fez néctar daquilo q se aceita
Fez do amor a colheita
um mal que não esperava
Da brisa, a natureza, proeza do sofrimento: jornada
Era mais contemplado como castigo
Aquele bandido que andava ao lado
Fazia de tudo, fazia nada
Era doença, era deleite, era tortura, era pisada
Fazia de tudo, fazia nada
Por essas e aquelas; tormenta, me deixas
Onde estou nem é um lugar
A um passo de partir
A um peço de ficar