Os Baianos – Edvaldo “no sapatinho”

Sapato bicolor, muleta, calçamento de pedra, comprasSapatos bicolores conduzem o cansaço de um homem e sua muleta pelas pedras pisadas de preto do Pelourinho. É um suor de meio dia de sábado junto com um suspiro gigante de uma madrugada em claro. Camisa branca entreaberta, calça risca de giz com bainha impecável, um cumprimento, um sorriso. Edvaldo está voltando para casa, mas antes quer dar uma passadinha na Cantina da Lua, dar um alô ao amigo Clarindo Silva.

Já atrasou um pernoite inteiro, tudo que “a patroa” tiver que reclamar não vai ter agravante por causa de uma horinha a mais de conversa – muito menos pela parada para uma fotografia. “Vou falar com meu filho para acalmar a fera”, avisa, entregando como será o preâmbulo antes de ouviir todas as reclamações da esposa. “Ela não vai querer estragar um casamento de 40 anos em função de uma bobagenzinha”.

Esta bobagenzinha é partida de dominó. Não uma, porque não se conhece disputa de 28 pedras capaz de custar a vigília inteira. “Foi um dominozinho inocente”, minimiza seu Edvaldo. Mais do que inocente, deve ter sido um dominozinho de gala, a julgar pela indumentária do jogador. Um mais afoito poderia até mesmo julgar antecipadamente que ele teria se encantado mais por alguma seresta na região da Piedade do que pelas tramas de uma buchada ou lasquinê preso.

Ao saber que Edvaldo tem estreita ligação com o coreógrafo Carlinhos de Jesus e que tem outros 50 pares de calçados do mesmo gênero feitos sob encomenda, as suspeitas podem virar quase uma certeza. Ele garante que não, mas com certo sorriso malicioso e sem aquela indignação de quem é alvo de uma injúria. Edvaldo Carlos Vasconcelos, assessoria jurídica – é o que diz o cartão de visitas -, a seu dispor. E sai, rumo ao confronto com a patroa, na valsa, porque ainda tem muito lugar pra visitar até chegar em casa. Só no sapatinho. Imagem