Tuca pode estar deprimido, mas deve ser só charme

Tuca do jammil diz “venha de cinco” quando está bebendo cerveja na praia. Não so diz a expressão do imaginário lúdico infantil da década de 90 como também estende a mão ao alto e espera o interlocutor fazer o mesmo e dar aquele tapão típico do que se chamava de “brau”. Tuca, que tem mais cara de Jammil mesmo, e não de Antonio Carlos, faz isso com mulheres também – e adultas, e de biquínis tão exíguos quanto a diversidade de rimas que ele, Tuca, canta. Ele faz isso tudo com

o cara é broder, e vale tudo na rebarba da sexta-feira

euforia ainda maior do que a gravação de um DVD, só que a platéia agora é de apenas duas ex-ninfetas (e um ex aí tão bem aplicado temporalmente como seria colocar o mesmo prefixo na palavra famoso junto do nome Gilliard). Elas, que só entenderam o que o professor de física falava sobre gravidade depois dos 25 anos e, em média, dois abortos, acham que derrotar esse vilão é tarefa fácil do herói Jump, uma caminha elástica que em tese serve para segurar alguma coisa.

Elas fingem estar um pouco desatentas e entediadas com a conversa de surfista tentando mostrar conteúdo. De vez em quando, dão uma risada espontânea mas até a risada espontânea nelas é artificial.

É sexta feira nesta praia em que todos parecem ter obrigação de tatuar o corpo e ninguém parece ter emprego formal desses com nome na folha de ponto.

É sexta feira e só as ex-lolitas para dar sentido a esse início antecipado de noite para Tuca do Jammil, esse rapaz que de quarentão exibe a sunga com listras escuras horizontais e a proeminência na parte de baixo do abdômen, aquela que não dá pra reprimir apenas prendendo a respiração.

(a pergunta que se fariam os observadores mais rigorosos é que tipo de crise é capaz de tirar o serviço do nosso galã da meia-idade em noite de sexta. Respostas na editoria de economia ou na de show bizz local).

Tuca não precisaria de tanto mais empenho até porque o tédio das mulheres é só fingido. Afinal, ali está um praieiro legítimo, daqueles que podem mandar uma declaração cifrada entre aês e eôs, capaz de deixar qualquer amiga impressionada: “oh, ele escreveu esse ´quero mais viver´ em homenagem a sua tatoo CARPE DIEM na nuca?”

A todo momento caçadores de viado passam correndo com suas sungas de afrescos e viados incubados passam andando com pensamentos sobre como colocar silicone nas nádegas e parecerem apenas que estão malhando o suficiente para inchar os glúteos.  Tucá já está arrumando a mochila e a dupla já está sacodindo a canga. Certamente, não precisa muito malabarismo, para ele confirmar que está ali disposto a contar máximas de play ground correndo o risco de ofuscar sua aura de quase celebridade apenas porque está com pressa e precisa levar urgentemente alguém pra comer na cobertura de Stela, já que passou o tempo em que requisitava esse serviço delivery.

Um gordo ruivo com sunga azul marinho (dois números abaixo da ideal pelo sistema cofrinho de medição) não leu o manual que diz que papetes não combinam com os pés confortáveis de gays.

Tuca anda por entre as meses até o carro cumprimentando deus-e-o-mundo. É figurinha carimbada naquela zona de sombreiros verdes. É gente boa com garçons, e beija clientes mulheres, suas conhecidas ou fãs, nas cabeças e faz sinais como de shalom e soquinhos no peito para os homens. É aquele cara que faz bem para a imagem de cetro espírita e acha que um cumprimento seu é algo como contrapartida social, uma espécie de bolsa família para a classe média alta.

Eu, com 31 anos, ainda estou muito novo para achar graça disso tudo. Sinto pena do DJ que por estar tocando músicas ruins em remixe balançando a cabeça em púlpito elevado, acha que está acima de todos mundo. A vida tem derrotas, Tuca, você sabe disso mais do que eu. Só que hoje você pode comemorar suas lamentações com as ex alguma coisa. Mas antes vá ali no caixa do quiosque, passe o cartão pra pagar as contas que ainda não eram suas e ser menos infeliz.